sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Existência de Deus

Recebi de um amigo um texto da Associação Monfort que apresenta as provas da existência de Deus. A Associação Monfort se define em seu site como sendo "uma entidade civil de orientação católica que tem como finalidade, entre outras, a difusão do ensinamento tradicional da Igreja e da cultura desenvolvida pela civilização cristã ocidental". O texto começa assim:

"Ninguém afirma: 'Deus não existe' sem antes ter desejado que Ele não exista."


Sobre essa afirmação, faz-se necessária a correta distinção entre ateu e agnóstico. Um ateu afirma que Deus não existe enquanto um agnóstico afirma que é impossível provar a existência ou a não-existência de Deus. Pode parecer a mesma coisa mas não é. Na minha opinião o ateu está errado pois assume que possui o conhecimento completo do Universo o que é humanamente impossível.

Reza a lenda que perguntavam a Santo Agostinho o que Deus estava fazendo antes de criar o Universo e ele muito contrariado respondia: "Estava preparando o inferno para quem fizesse essa pergunta." A verdade é que não sabemos e nem temos como saber o que aconteceu antes do momento inicial do surgimento do Universo, que para os cientistas ocorreu na explosão do Big Bang. Se alguém afirmar que Deus é o Ser/Entidade/Força/Energia que tornou possível a fagulha inicial do surgimento do Universo eu concordarei plenamente, mas acrescentarei: Não temos e nem podemos ter idéia do que seja esse Deus.

O texto continua assim:

"Com efeito, o devedor insolvente gostaria que seu credor não existisse. O pecador que não quer deixar o pecado, passa a negar a existência de Deus."

Já falei sobre isso antes no meu blog e sou totalmente contra declarações desse tipo pois elas partem do princípio de que todos somos devedores e pecadores por definição. Os teólogos parecem ser mestres em demonstrar o seu desprezo pelo ser humano, afirmando que um ateu *por definição* tem que ser um pecador. Ora assim como é plenamente possível haver não-devedores sem que existam credores também é possível que existam ateus não-pecadores. Quem não concorda com isso está se rebaixando ao nível de um animal irracional, sem livre arbítrio para escolher entre o certo e o errado. Qual é o valor moral de não ser um pecador apenas porque alguém está lhe vigiando? É a máxima do ladrão que vive de oportunidades.

O texto continua, passando por Tomás de Aquino e Aristóteles, para concluir:

"Este primeiro motor não pode ser movido, porque não há nada antes do primeiro. Portanto, esse 1º ente não podia ter potência passiva nenhuma, porque se tivesse alguma ele seria movido por um anterior. Logo, o 1º motor só tem ATO. Ele é apenas ATO, isto é, tem todas as perfeições. Este ser é Deus."


ou como meu amigo resumiu muito bem:

"Deus é o Ser por essência, a causa primeira incausada, o primeiro motor imóvel, infinito e único."


Eu prefiro dizer que partindo do princípio de que nada surge do nada, Deus foi a fagulha inicial que tornou possível o Universo tal como o conhecemos. Se essa é a definição de Deus, então, por uma questão de honestidade intelectual, eu acredito. O que nem eu nem ninguém consegue provar são as tais revelações divinas e as intervenções desse Deus nesse mundo e na vida das pessoas. Apenas porque não conseguimos explicar um acontecimento, não significa que foi Deus que esteve ali. Não sabemos e nem nunca saberemos sobre tudo. Infelizmente o mundo abunda de falsos profetas que apenas colaboram para esconder o verdadeiro Deus que existe dentro de cada ser humano. O Deus da liberdade, da vida, da determinação, da ética, da felicidade sem pecado, culpa ou vergonha.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Divino

Quando me perguntam se eu acredito em Deus eu respondo com a seguinte pergunta: "Você acredita em questara?" Do mesmo jeito que você precisa entender bem qual é a minha definição para "questara" antes de tentar responder, eu também preciso entender qual a definição de Deus a que você se refere. Seria Jesus? Maomé? Moisés? Buda? Seria o Flying Spagetti Monster, que recentemente se manifestou numa parede?

O que é Deus? Seria uma entidade, uma força, uma energia, o universo ou uma realidade de outro plano? Será Deus a definição de tudo aquilo que não podemos compreender? Será Deus diretamente proporcional ao tamanho do nosso sofrimento? À intensidade de nossos medos? À aflição das nossas dúvidas? Será Deus um senhor de escravos, controlando e determinando o nosso destino de acordo com sua vontade? Será Deus um ciumento que não admite concorrência e ordena: "Não terás outros deuses além de mim; Não farás para ti nenhum ídolo".

Ou será Deus a definição de tudo aquilo que há de bom no mundo e que torna possível a felicidade como sendo aquele sentimento de exaltação por estar vivo?

A verdade é que do mesmo jeito que você não sabe o que é questara, você não sabe o que é Deus. Mas mesmo assim você acredita, porque te ensinaram desde criancinha a respeitar os mais poderosos. Mas se Deus existe ele não deve ser como um político brasileiro que bate no peito e diz: "Você sabe com quem está falando?"

Seja lá o que seja Deus eu pelo menos sei onde ele se manifesta: nos olhos de uma pessoa determinada. Na força de uma mente independente que não conhece o medo, nem tem motivo para a vergonha. No brilho da satisfação por realizar a sua verdade. Vejam o vídeo abaixo para entender.

Como diria Bernard Shaw: "O fato de um crente ser mais feliz que um cético não é mais pertinente que o fato de um homem bêbado ser mais feliz que um sóbrio." Como seria bom se as pessoas procurassem um motivo racional para ser feliz aqui mesmo nesse mundo.

A soberania da lei

Na história da humanidade houve Homens que se eternizaram através dos seus atos e que concederam um novo sentido de vida para aqueles que entenderam suas palavras. Não estou falando aqui de nenhum filho de Deus pré-destinado e dotado de poderes sobrenaturais. Estou falando de Homens de-carne-e-osso que tiveram a coragem de viver apenas para a sua verdade. Entre esses eu destaco o americano Henry David Thoreau.

Thoreau levou ao extremo a máxima de Thomas Jefferson, principal autor da Declaração de Independência americana, que disse:

"Se uma lei é injusta, um homem não tem apenas o direito de desobedecê-la, ele é obrigado a fazê-lo."


Em 1846, enquanto os Estados Unidos representados pelos latifundiários do sul travavam uma guerra contra o México, expandindo a escravatura, na época lei federal, pelas terras anexadas do Texas, Thoreau foi confrontado por um coletor de impostos a pagar a sua quota no "poll tax", também conhecido como "head tax" ou "imposto por cabeça". Tratava-se de um imposto fixo, não proporcional a renda, obrigatório, que Thoreau como um convicto abolicionista se recusara a pagar afirmando que não ajudaria a financiar a guerra dos senhores de escravos. Diante da recusa, Thoreau recebeu voz de prisão e se dirigiu calmamente a sua cela, da onde foi solto no dia seguinte quando seu tio, contra a sua vontade, efetuou o pagamento do imposto.

Essa experiência teve grande impacto na vida de Thoreau levando-o a escrever o livro "Desobediência Civil" onde afirma ter se sentido mais livre na prisão do que como um financiador da guerra e da escravidão. Cem anos mais tarde, Martin Luther King Jr. em sua autobiografia destacaria a importância do livro de Thoreau em sua campanha de resistência não-violenta durante o boicote aos ônibus de Montogomery após Rosa Parks ser presa por se recusar a ceder o seu lugar a um passageiro branco.

Algo similar aconteceu na Alemanha Nazista, quando algumas poucas famílias alemãs esconderam Judeus clandestinamente em suas casas, correndo todo o tipo de risco, para que eles não fossem enviados para os campos de concentração. Ora, quem realmente consegue afirmar que os oficiais que estavam trabalhando nesses campos, onde há farto material histórico comprovando o que ali ocorria de forma planejada, estavam "apenas cumprindo a lei"? Há alguns poucos casos de oficiais alemães que preferiram pedir transferência para a frente de batalha a servir nesses campos. Quem viu o filme "A Lista de Schindler" compreende porque a lei não é nem pode ser soberana.

Como Thoreau mesmo afirmou: "É preferível cultivar o respeito do bem, do que o respeito pela lei." Termino deixando o vídeo abaixo com algumas mensagens de Thoreau: