domingo, 13 de setembro de 2009

O suicídio de Nelsinho Piquet

Engraçado esse mundo. Vende-se a honra na primeira oportunidade e depois reclama-se da vida. A continuar assim "ética" e "integridade" em breve serão palavras relegadas aos idealistas inocentes, como já acontece na política brasileira e na filosofia nacional do "eu quero é me dar bem!".

Nelsinho Piquet premiou os brasileiros com uma história digna da fraqueza moral que assola esse povo tradicionalmente derrotista, inseguro e de pouca auto-estima (*). Pressionado pelos seus chefes para trapacear de forma grosseira no grande prêmio de Cingapura ele obedeceu. Atirou a ética no lixo, pensou apenas na sua carreira, na renovação do seu contrato, e jogou o carro no muro. Foi "egoísta" como diriam alguns, pois pensou apenas em si ignorando todo o resto, como a ética, a credibilidade do esporte e os outros competidores que estavam ali honestamente competindo.



Nelsinho achou que seria possível se safar das suas fracas atuações fazendo um conchavo com o chefe para a trapaça. A falta de auto-estima foi tão gritante que após esse papelão anti-ético ele ainda conseguiu correr pela escuderia por quase um ano até que foi mandado embora pela ausência de bons resultados. Então nesse momento ele resolveu "resgatar" sua moralidade e meter a boca no trombone.

O caso de Nelsinho assusta porque é oriundo da camada mais nobre da sociedade brasileira, nobre no sentido de mais afortunada pelo acesso a cultura, educação, jantares semanais com a família e contas bancárias abarrotadas. O que passou na cabeça de Nelsinho quando recebeu a proposta indecente? Por que não avaliou a seguinte alternativa: "Não, isso eu não faço. Não sou um trapaceiro. Posso não estar tendo bons resultados, mas tenho minha honra, meu auto-respeito, e não estou disposto a abrir mão disso. Caso insistam pedirei demissão imediatamente."

E é exatamente nessa hora que as pessoas gargalham, me chamam de idiota idealista, afirmam com convicção que só um imbecil bobalhão como eu abriria mão de um emprego milionário numa escuderia de ponta em troca de uma ética ridícula e fora de moda. Que é muito melhor um "pouco ético" empregado pela Renault, com salário e prestígio altos, do que um ético desempregado.

Analisemos então o que aconteceu com Rubinho Barrichello: Pressionado pela Ferrari para deixar o Schumacher ultrapassá-lo, ele cedeu. Depois chorou, esperniou, colocou a culpa na equipe, se disse perseguido, etc. só não levou em conta a alternativa mais difícil e correta: Meter o pé no acelerador, vencer a corrida, sair do carro e colocar o seu emprego a disposição da equipe.

Mais uma vez gargalhadas. Então seria melhor para o Rubinho peitar a Ferrari, a escuderia mais poderosa da Formula 1, correr o risco de perder o emprego abrindo mão de um salário milionário para posar de bom moço que preza pela honra e pela ética? Eu acho que sim.

Apesar de muitos brasileiros, eu excluído, saberem internamente, na sua intimidade, que fariam exatamente o mesmo que Nelsinho e Rubinho fizeram, como não possuem essa oportunidade então criticam, pregam uma moralidade que sabem que não são capazes de exercê-la, até porque acreditam que nunca estarão em situações de destaque como a de seus criticados. Diante disso foi natural e justo constatar que Rubinho Barrichello virou sinônimo de piada nacional, até porque ele nunca se disse arrependido do incidente com Schumacher.

Não faltam exemplos brasileiros desse tipo de comportamento auto-destrutivo. É a filosofia do "malandro carioca", do "me dei bem" ou ainda do "não sou santo, mas ando de jatinho e como caviar". Um caminhão tomba na pista Opa! Taí uma oportunidade de pegar uma mercadoria de graça, saqueando com um sorriso de vitória nos dentes, como se a mercadoria não tivesse dono.

Se realmente Nelsinho acreditava que o que ele fez foi o melhor para a sua carreira, espero que futuramente ele entenda que seu ato foi semelhante a um suicídio profissional. Após esse incidente ele provavelmente conseguirá outros empregos mas poderá ficar difícil para que ele tenha a serenidade, a auto-confiança, o respeito-próprio e o apoio das pessoas de bem para que ele se sente num carro de corrida e participe de uma competição de cabeça erguida. O verdadeiro egoísta, o egoísta racional, não prejudica os outros, mas acima de tudo não prejudica a si mesmo. É como comer comida estragada, ter uma diarréia, e reclamar da saúde. Na minha concepção de vida devemos procurar a ética assim como procuramos o prato de comida mais limpo. Pois é mais fácil curar uma dor de barriga do que falta de respeito próprio.

Atualização: Resolvi incluir as palavras do próprio Nelsinho. Fonte: O Globo Quando me pediram para bater o carro e provocar a entrada do 'safety car' a fim de ajudar a equipe, aceitei porque esperava que pudesse melhorar minha posição na equipe neste momento crítico da temporada. Em nenhum momento fui informado por qualquer pessoa que, ao concordar em provocar um incidente, eu teria garantido a renovação de meu contrato ou qualquer outra vantagem. No entanto, no contexto, pensei que seria útil para alcançar este objetivo. Por isso, concordei em provocar o incidente.

(*) Fonte: Revista "Isto É" de 09/Set/2009 reportagem "Olha-se no espelho": A falta de amor-próprio é um problema histórico do brasileiro, dono de uma autoimagem derrotista. Estudo da International Stress Management Association no Brasil (Isma- BR) aponta que 59% das pessoas no País têm pouca confiança em si. Quem tem baixa autoestima acaba atropelado pelo dinamismo do mundo, ou reage com violência às frustrações, ou mascara a insegurança com símbolos de status. O resultado vai de um simples incômodo a distúrbios mentais graves. Por isso, estimar-se é uma necessidade vital, que não tem nada a ver com arrogância, como se acreditava até 15 anos atrás.

4 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Acho que nem tudo na vida 'e 8 ou 80. Muitas vezes o certo para uns pode ser errado para outros e vice-versa. Acredito que nao cabe a nos julgar nada nem ninguem. 'E facil falar que se estivessemos no lugar do Nelsinho, poderiamos ter primado pela etica, mas, se realmente estivessemos la ao volante, sob pressao, vivendo a paixao do automobilismo, a concretizacao do sonho de pilotar e munido da ambicao de chegar mais longe e vencer um dia o GP de Formula-1 como o pai conquistou o titulo 3 vezes; sera que naqueles pouco segundos teriamos tido uma atitude diferente?
Realmente o que Nelsinho fez nao e' motivo de orgulho muito menos um exemplo a ser seguido, o que quero aqui mostrar 'e que todos somos passiveis de erro. Muitas vezes por mais que tenha-se boa indole, a pessoa pode ser levada a cometer um erro, sem pensar muito na situacao e em suas consequencias , no impulso erra, para depois se arrepender, Tambem nao estou querendo dizer que ele 'e uma vitima dessa situacao que ele mesmo criou. Ele pode ter tido sim, plena consciencia do que estava fazendo e ter sido egoista e anti-etico. Meu objetivo aqui 'e apenas dar o direito da duvida e mostrar aos leitores que nem tudo na vida ' 'e ferro e fogo' .

14 de setembro de 2009 às 04:31  
Blogger Sergio Oliveira Jr. disse...

Tudo bem Daniela?

Eu apenas acredito que:

1) Trapacear é errado.

2) Revelar a trapaça após ter sido demitido é estranho.

3) Se ele realmente amasse o automobilismo nunca teria feito isso.

4) Ambição é fundamental. Sou totalmente a favor. Mas trapacear para conseguir seus objetivos é ERRADO. Esse sim é o egoísmo sórdido, aquele que necessita destruir para sobressair. Os fins não justificam os meios.

5) Acho que o Nelsinho tinha chances de crescer na carreira. Agora depois disso fica bem mais complicado né?

6) É na hora da pressão que as decisões mais difíceis e importantes tem que ser tomadas de forma correta. É nessa hora que se separa o joio do trigo.

Não estou julgando o Nelsinho. Estou apenas dando minha opinião pessoal diante dos fatos revelados até o momento.

-Sergio

14 de setembro de 2009 às 06:25  
Blogger Rodrigo Constantino disse...

Excelente artigo!

"Os grandes navegadores devem sua ótima reputação às grandes tempestades." (Epicuro, 300 a.C.)

Nessas horas difíceis é que cada um mostra O QUE é.

14 de setembro de 2009 às 06:26  
Blogger Inocêncio de Oliveira disse...

Questão de falta de responsabilidade juntada a pressão feita em alguém sem maturidade, não vejo algo diferente disso.

O problema não é cometer erros, todos vamos cometer diversos erros em nosso caminho, o problema é mais de "ego", admitir que errou e aprender com o erro.

14 de setembro de 2009 às 09:05  

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