quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O porco de Lya Luft

Foi com um espanto interessado que me deparei com o artigo da escritora Lya Luft publicado na revista Veja com o título "A Sordidez Humana". O artigo só não é mais inspirador que a coluna policial de um jornal carioca. Nele Lya Luft compara o homem a um anjo sentado num porco e começa concluindo que o porco é desproporcionamente maior que o anjo. Em suma, ao longo do seu artigo Lya Luft dá a entender que todos temos o maligno dentro de nós e não há como escapar dessa dualidade, desse conflito interno. A minha opinião é que Lya Luft está errada e que cometeu um erro comum de todo bom socialista / coletivista: a generalização, o nivelamente por baixo, a exaltação do fraco, a enfatização da perfídia, o determinismo fatalístico de que o homem é um animal pronto a atacar como uma ratazana incurralada e a se rebaixar a um porco na primeira oportunidade. O homem precisa ser controlado, domesticado (por quem?), pois é mal por natureza.

Deveria haver uma enquete na revista Veja perguntando quantos gostaram desse artigo, ou melhor, quantos encontraram alento nas palavras da escritora. O assassino, o estuprador, o invejoso, o ladrão com certeza sentiram conforto ao lerem afirmações como as abaixo:

A sordidez e a morte cochilam em nós, e nem todos conseguem domesticar isso.


ou ainda

Queremos provocar sangue, cheirar fezes, causar medo, queremos a fogueira. Não todos nem sempre. Mas que em nós espreita esse monstro inimaginável e poderoso, ou simplesmente medíocre e covarde, como é a maioria de nós, ah!, espreita.


O que pensar? O que responder? Precisa realmente de resposta? Então há um monstro dentro das pessoas que é medíocre, covarde, inimaginável e poderoso. Se ela cometer algum ato maligno foi provavelmente porque do alto, ou melhor de baixo, da sua completa insiginificância ela não foi capaz de "domesticar" o seu monstro. Só faltou completar afirmando que foi falta de Deus no coração, mas essa parte deve ter ficado para um próximo artigo.

Não posso falar pelos outros, mas posso compartilhar com Lya Luft a minha opinião sobre o artigo. Primeiro: sou agnóstico e não acredito ser necessário nenhum Deus para me ensinar o que é certo e o que é errado. Segundo: o ser humano é um animal RACIONAL que possui escolha, isto é, entre o estímulo e a reação ele possui o livre arbítrio. E terceiro: não estou sentado em cima de nenhum porco.

Enquanto as pessoas viverem numa sociedade onde o ponto de vista do porco é enfatizado realmente não podemos esperar nada melhor do que vemos nos jornais, ou lemos nas revistas. Sim, o bem e o mal existem, e se você não sabe diferenciá-los então você não está apto para viver em sociedade e deve ser removido. E porque o bem e o mal existem, existe também a escolha moral. Se você escolheu ser um porco, não há diabo, ou Deus, ou circunstância ou qualquer outra justificativa para isso que não seja apenas a sua escolha pessoal. Se não o estuprador pode acabar virando o estuprado. Enquanto as pessoas puderem contar com deuses e diabos, e terem a certeza da sua insignificância diante deles, fica realmente complicado tentar passá-las qualquer senso de responsabilidade individual.

Gostaria de ver um outro artigo publicado na Veja mostrando o contra-ponto do porco, ou seja, a honra, a ética, o racional e a integridade do homem. Seria certamente uma leitura mais leve, estimulante e proveitosa.

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