segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ética x Dignidade

Em conversas de bar, quando o assunto desvia do tradicional mulher e futebol, percebo que sou voto vencido na questão do absolutismo da ética. Colocando de forma simples, a maioria dos meus amigos defendem a idéia de que "não se pode cobrar ética de um favelado, ou de alguém que não tem o mínimo necessário para lhe garantir a dignidade". O presidente Lula também colaborou recentemente para esse debate ao afirmar que: "A única hipótese de a gente não ter um policial levando propina da bandidagem é o policial ganhar o suficiente para cuidar da sua família". Basicamente o presidente concedeu um álibi a todo policial corrupto e por tabela chamou todo pobre honesto de idiota. Mais uma vez, e como de costume nesse país do faz-de-conta, a ética foi jogada no lixo. Na cabeça do Lula apenas ricos têm a obrigação de ser éticos, enquanto pobres são vítimas por definição. É uma moralidade nojenta que coloca a sociedade brasileira nesse nível maravilhoso que acompanhamos todos os dias nos jornais.

E por falar em jornais, os brasileiros foram premiados na virada do ano com um surto de sinceridade do jornalista Bóris Casoy. Vejam o vídeo abaixo e prestem atenção no áudio ao final com legendas:



Confesso que inicialmente pensei se tratar de uma montagem, até que encontrei esse outro video, onde o apresentador admite o fato e pede desculpas.



É, a máscara caiu. Pedir desculpa por ser sincero soa contraditório. O problema é que a máscara da sociedade brasileira já caiu há muito tempo, e com o aval dessa gente que acha que ética, caráter e honestidade se julgam pelo tamanho da sua conta bancária. Roubar é feio, mas se você for pobre nem tanto. Aceitar propina de bandido é errado, mas se o policial ganha pouco então dá para entender. Faz sentido, principalmente se levarmos em conta que os ricos desse país são extremamente honestos (para aqueles que não possuem senso de humor isso foi apenas uma ironia)

O que o poderoso Lula e o bem-remunerado Bóris Casoy não entendem nem nunca vão entender é que poder e dinheiro compram tudo menos ética, honra e caráter. Que um gari ou policial que seja ético pode chegar a noite em casa, se olhar no espelho e dar graças a Deus por não ser um Bóris Casoy. Isso se chama auto-estima, auto-respeito, honra e não se encontra a venda nos shopping centers de Brasília.

Como diria Victor Frankl, um sobrevivente de um campo de concentração nazista:

"O homem, por força de sua dimensão espiritual, pode encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada. (...) Nós que vivemos nos campos de concentração podemos lembrar de homens que andavam pelos alojamentos confortando a outros, dando o seu último pedaço de pão. Eles devem ter sido poucos em número, mas ofereceram prova suficiente que tudo pode ser tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas - escolher sua atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho."


Feliz 2010 com muita saúde, planos e sucesso!

2 Comentários:

Blogger Ari Cesar disse...

Pois é Sergio. Esse questão de ética X dignidade sempre foi muito delicada em nosso país e agora se agravou ainda mais com uma forcinha do presidente.

Infelizmente aqueles de posição pública que deveriam dar o exemplo de como ser exemplo são os primeiros a se corromperem. Não falo apenas da política brasileira que é uma vergonha nacional e sim de todo o sistema. Por exemplo, eu estava na praia (Capão Novo, RS) e no condomínio onde veraneio um dos condôminos resolveu colocar as suas próprias regras indo contra todas as possíveis normas do condomínio. Junto com isso descubro que um dos moradores, um homem culto, de posição e influência no trabalho tem como costume pegar o jornais alheio e dizer que não sabe quem pegou, porém todos os condôminos sabem que é ele quem pega. Junto com isso descubro algumas imparcialidades na fiscalização da cidade, coisas como empresa pequena sofre multa por estar com alguns problemas, porém outra empresa do mesmo ramo que apresenta o mesmo problema durante o ano todo não recebe multa alguma. Como diria o Bóris ético: Isso é uma vergonha.

Creio que ética e dignidade são "irmãs que andam de mãos dadas" e quando se rompe esse vínculo ocorre o que vivemos hoje, um mundo de máscaras onde poucos realmente vivem quem realmente são e a dignidade se torna algo tão sem relevância que apenas é lembrada em histórias como a de samurais.

Eu poderia falar sobre muitas coisas que eu considero como falta de ética e dignidade como por exemplo o que ocorre nos reality shows, padrões implantados através da televisão, questões sociais que se tornaram banais como a falta de compromisso de um casamento (hoje não existe mais o até a morte nos separe e sim até que eu te aguente ou você tenha dinheiro para pagar minha pensão), mas irei me deter no que escrevi.

Apenas para não gerar confusão, dignidade que falo não é a situação econômica que nos faz digno diante de meia dúzia de pessoas e aplaudido por conseguir se sustentar de uma forma lícita. Dignidade para mim está no interior da pessoa e isso provêm de uma educação correta e de exemplos dentro de casa. Ouso dizer que dignidade e ética desenvolvem a justiça, amor e respeito ao próximo, compaixão e outras muitas qualidades que a sociedade atual tem perdido.

Um grande abraço e parabéns pelo artigo.

4 de janeiro de 2010 às 16:20  
Blogger Marcos Rittner - Author disse...

Parabens pelo artigo, realmente excelente. Li o Victor Frankl (Man's search for meaning) e o Stephen Covey usou-o muito para fazer seus principios.

Realmente não existe meio-termo em ética e dignidade.

15 de janeiro de 2010 às 04:59  

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