quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Um mundo governado pelo acaso

Mais um desastre "natural" acontece no mundo e numa hora dessas não dá para não sentir compaixão pelas pessoas inocentes que tiveram suas vidas ceifadas. Como os religiosos que acreditam num Deus intervencionista interpretam
esses eventos? Será que essas pessoas que morreram não rezavam? Será que não eram boas? E as crianças? Quando uma pessoa morre num evento isolado as pessoas costumam dizer: "ele se foi porque chegou a sua hora", mas num evento que leva embora
milhares de pessoas fica difícil acreditar numa interseção de alarmes.

Por que será que as pessoas se recusam a considerar a possibilidade mais óbvia: infelizmente esse mundo é governado por eventos aleatórios, ou seja, estamos vivos hoje mas não há nada que garanta que estaremos vivos amanhã. O mundo vai continuar rodando,
outras catástrofes vão ocorrer, e como diria Adam Smith: uma dor de dente incomoda mais uma pessoa do que um terremoto do outro lado do mundo. Ou não?

Essas tragédias devem enaltecer dois sentimentos: a solidariedade e a satisfação plena por estar vivo *hoje*. Mas é claro: "Deus sabe o que faz..."

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ética x Dignidade

Em conversas de bar, quando o assunto desvia do tradicional mulher e futebol, percebo que sou voto vencido na questão do absolutismo da ética. Colocando de forma simples, a maioria dos meus amigos defendem a idéia de que "não se pode cobrar ética de um favelado, ou de alguém que não tem o mínimo necessário para lhe garantir a dignidade". O presidente Lula também colaborou recentemente para esse debate ao afirmar que: "A única hipótese de a gente não ter um policial levando propina da bandidagem é o policial ganhar o suficiente para cuidar da sua família". Basicamente o presidente concedeu um álibi a todo policial corrupto e por tabela chamou todo pobre honesto de idiota. Mais uma vez, e como de costume nesse país do faz-de-conta, a ética foi jogada no lixo. Na cabeça do Lula apenas ricos têm a obrigação de ser éticos, enquanto pobres são vítimas por definição. É uma moralidade nojenta que coloca a sociedade brasileira nesse nível maravilhoso que acompanhamos todos os dias nos jornais.

E por falar em jornais, os brasileiros foram premiados na virada do ano com um surto de sinceridade do jornalista Bóris Casoy. Vejam o vídeo abaixo e prestem atenção no áudio ao final com legendas:



Confesso que inicialmente pensei se tratar de uma montagem, até que encontrei esse outro video, onde o apresentador admite o fato e pede desculpas.



É, a máscara caiu. Pedir desculpa por ser sincero soa contraditório. O problema é que a máscara da sociedade brasileira já caiu há muito tempo, e com o aval dessa gente que acha que ética, caráter e honestidade se julgam pelo tamanho da sua conta bancária. Roubar é feio, mas se você for pobre nem tanto. Aceitar propina de bandido é errado, mas se o policial ganha pouco então dá para entender. Faz sentido, principalmente se levarmos em conta que os ricos desse país são extremamente honestos (para aqueles que não possuem senso de humor isso foi apenas uma ironia)

O que o poderoso Lula e o bem-remunerado Bóris Casoy não entendem nem nunca vão entender é que poder e dinheiro compram tudo menos ética, honra e caráter. Que um gari ou policial que seja ético pode chegar a noite em casa, se olhar no espelho e dar graças a Deus por não ser um Bóris Casoy. Isso se chama auto-estima, auto-respeito, honra e não se encontra a venda nos shopping centers de Brasília.

Como diria Victor Frankl, um sobrevivente de um campo de concentração nazista:

"O homem, por força de sua dimensão espiritual, pode encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada. (...) Nós que vivemos nos campos de concentração podemos lembrar de homens que andavam pelos alojamentos confortando a outros, dando o seu último pedaço de pão. Eles devem ter sido poucos em número, mas ofereceram prova suficiente que tudo pode ser tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas - escolher sua atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho."


Feliz 2010 com muita saúde, planos e sucesso!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A Terra Prometida

Resolvi fazer a legendagem do vídeo no YouTube com o último discurso de Martin Luther King Jr. Um verdadeiro profeta, mundano, de carne-e-osso, que utilizou a arma mais poderosa para combater a discriminação: a auto-estima.

Como ele já tinha afirmado no discurso "Eu tenho um sonho", a tal Terra Prometida era aquela que honraria o artigo primeiro da constituição americana de 1780, que disse:

"Todos homens nascem livres e iguais, e possuem certos direitos naturais, essenciais e inalienáveis; entre eles o direito de desfrutar e defender suas vidas e suas liberdades; o direito de adquirir, possuir e proteger suas propriedades; em suma, o direito de perseguir e obter sua segurança e felicidade."


Hoje sabemos que as pessoas não nascem iguais. A natureza nunca foi e nunca será igualitária. Ao invés de ficar se lamentando pelas diferenças de sorte, beleza, riqueza, altura, cor, inteligência, etc., o que só alimenta a inveja e o ódio, o melhor que temos a fazer é aceitar esse mundo como ele é. Um mundo de iguais pode existir apenas na imaginação, ou na contemplação de um formigueiro. Lutar contra as leis da natureza só colabora para afligir o espírito. Quem não aceita a morte acaba desperdiçando a sua vida na procura de uma outra no além. Quem não aceita as diferenças, procura conforto num Deus igualitário que criou um mundo desigual sabe-se lá o porquê. Alguns parecem que se frustram com essa incoerência de Deus e partem para a implementação do igualitarismo no pau, como se fosse possível ignorar a gravidade.

A Terra Prometida de Martin Luther King não era um mundo de iguais, mas sim uma terra onde as regras do jogo são iguais para todos, independentemente de suas diferenças de DNA. Um homem só pode ser julgado pelas suas escolhas morais que definem o seu caráter social e sua auto-estima. Acho que foi isso que Martin Luther King viu do topo da montanha.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Existência de Deus

Recebi de um amigo um texto da Associação Monfort que apresenta as provas da existência de Deus. A Associação Monfort se define em seu site como sendo "uma entidade civil de orientação católica que tem como finalidade, entre outras, a difusão do ensinamento tradicional da Igreja e da cultura desenvolvida pela civilização cristã ocidental". O texto começa assim:

"Ninguém afirma: 'Deus não existe' sem antes ter desejado que Ele não exista."


Sobre essa afirmação, faz-se necessária a correta distinção entre ateu e agnóstico. Um ateu afirma que Deus não existe enquanto um agnóstico afirma que é impossível provar a existência ou a não-existência de Deus. Pode parecer a mesma coisa mas não é. Na minha opinião o ateu está errado pois assume que possui o conhecimento completo do Universo o que é humanamente impossível.

Reza a lenda que perguntavam a Santo Agostinho o que Deus estava fazendo antes de criar o Universo e ele muito contrariado respondia: "Estava preparando o inferno para quem fizesse essa pergunta." A verdade é que não sabemos e nem temos como saber o que aconteceu antes do momento inicial do surgimento do Universo, que para os cientistas ocorreu na explosão do Big Bang. Se alguém afirmar que Deus é o Ser/Entidade/Força/Energia que tornou possível a fagulha inicial do surgimento do Universo eu concordarei plenamente, mas acrescentarei: Não temos e nem podemos ter idéia do que seja esse Deus.

O texto continua assim:

"Com efeito, o devedor insolvente gostaria que seu credor não existisse. O pecador que não quer deixar o pecado, passa a negar a existência de Deus."

Já falei sobre isso antes no meu blog e sou totalmente contra declarações desse tipo pois elas partem do princípio de que todos somos devedores e pecadores por definição. Os teólogos parecem ser mestres em demonstrar o seu desprezo pelo ser humano, afirmando que um ateu *por definição* tem que ser um pecador. Ora assim como é plenamente possível haver não-devedores sem que existam credores também é possível que existam ateus não-pecadores. Quem não concorda com isso está se rebaixando ao nível de um animal irracional, sem livre arbítrio para escolher entre o certo e o errado. Qual é o valor moral de não ser um pecador apenas porque alguém está lhe vigiando? É a máxima do ladrão que vive de oportunidades.

O texto continua, passando por Tomás de Aquino e Aristóteles, para concluir:

"Este primeiro motor não pode ser movido, porque não há nada antes do primeiro. Portanto, esse 1º ente não podia ter potência passiva nenhuma, porque se tivesse alguma ele seria movido por um anterior. Logo, o 1º motor só tem ATO. Ele é apenas ATO, isto é, tem todas as perfeições. Este ser é Deus."


ou como meu amigo resumiu muito bem:

"Deus é o Ser por essência, a causa primeira incausada, o primeiro motor imóvel, infinito e único."


Eu prefiro dizer que partindo do princípio de que nada surge do nada, Deus foi a fagulha inicial que tornou possível o Universo tal como o conhecemos. Se essa é a definição de Deus, então, por uma questão de honestidade intelectual, eu acredito. O que nem eu nem ninguém consegue provar são as tais revelações divinas e as intervenções desse Deus nesse mundo e na vida das pessoas. Apenas porque não conseguimos explicar um acontecimento, não significa que foi Deus que esteve ali. Não sabemos e nem nunca saberemos sobre tudo. Infelizmente o mundo abunda de falsos profetas que apenas colaboram para esconder o verdadeiro Deus que existe dentro de cada ser humano. O Deus da liberdade, da vida, da determinação, da ética, da felicidade sem pecado, culpa ou vergonha.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Divino

Quando me perguntam se eu acredito em Deus eu respondo com a seguinte pergunta: "Você acredita em questara?" Do mesmo jeito que você precisa entender bem qual é a minha definição para "questara" antes de tentar responder, eu também preciso entender qual a definição de Deus a que você se refere. Seria Jesus? Maomé? Moisés? Buda? Seria o Flying Spagetti Monster, que recentemente se manifestou numa parede?

O que é Deus? Seria uma entidade, uma força, uma energia, o universo ou uma realidade de outro plano? Será Deus a definição de tudo aquilo que não podemos compreender? Será Deus diretamente proporcional ao tamanho do nosso sofrimento? À intensidade de nossos medos? À aflição das nossas dúvidas? Será Deus um senhor de escravos, controlando e determinando o nosso destino de acordo com sua vontade? Será Deus um ciumento que não admite concorrência e ordena: "Não terás outros deuses além de mim; Não farás para ti nenhum ídolo".

Ou será Deus a definição de tudo aquilo que há de bom no mundo e que torna possível a felicidade como sendo aquele sentimento de exaltação por estar vivo?

A verdade é que do mesmo jeito que você não sabe o que é questara, você não sabe o que é Deus. Mas mesmo assim você acredita, porque te ensinaram desde criancinha a respeitar os mais poderosos. Mas se Deus existe ele não deve ser como um político brasileiro que bate no peito e diz: "Você sabe com quem está falando?"

Seja lá o que seja Deus eu pelo menos sei onde ele se manifesta: nos olhos de uma pessoa determinada. Na força de uma mente independente que não conhece o medo, nem tem motivo para a vergonha. No brilho da satisfação por realizar a sua verdade. Vejam o vídeo abaixo para entender.

Como diria Bernard Shaw: "O fato de um crente ser mais feliz que um cético não é mais pertinente que o fato de um homem bêbado ser mais feliz que um sóbrio." Como seria bom se as pessoas procurassem um motivo racional para ser feliz aqui mesmo nesse mundo.

A soberania da lei

Na história da humanidade houve Homens que se eternizaram através dos seus atos e que concederam um novo sentido de vida para aqueles que entenderam suas palavras. Não estou falando aqui de nenhum filho de Deus pré-destinado e dotado de poderes sobrenaturais. Estou falando de Homens de-carne-e-osso que tiveram a coragem de viver apenas para a sua verdade. Entre esses eu destaco o americano Henry David Thoreau.

Thoreau levou ao extremo a máxima de Thomas Jefferson, principal autor da Declaração de Independência americana, que disse:

"Se uma lei é injusta, um homem não tem apenas o direito de desobedecê-la, ele é obrigado a fazê-lo."


Em 1846, enquanto os Estados Unidos representados pelos latifundiários do sul travavam uma guerra contra o México, expandindo a escravatura, na época lei federal, pelas terras anexadas do Texas, Thoreau foi confrontado por um coletor de impostos a pagar a sua quota no "poll tax", também conhecido como "head tax" ou "imposto por cabeça". Tratava-se de um imposto fixo, não proporcional a renda, obrigatório, que Thoreau como um convicto abolicionista se recusara a pagar afirmando que não ajudaria a financiar a guerra dos senhores de escravos. Diante da recusa, Thoreau recebeu voz de prisão e se dirigiu calmamente a sua cela, da onde foi solto no dia seguinte quando seu tio, contra a sua vontade, efetuou o pagamento do imposto.

Essa experiência teve grande impacto na vida de Thoreau levando-o a escrever o livro "Desobediência Civil" onde afirma ter se sentido mais livre na prisão do que como um financiador da guerra e da escravidão. Cem anos mais tarde, Martin Luther King Jr. em sua autobiografia destacaria a importância do livro de Thoreau em sua campanha de resistência não-violenta durante o boicote aos ônibus de Montogomery após Rosa Parks ser presa por se recusar a ceder o seu lugar a um passageiro branco.

Algo similar aconteceu na Alemanha Nazista, quando algumas poucas famílias alemãs esconderam Judeus clandestinamente em suas casas, correndo todo o tipo de risco, para que eles não fossem enviados para os campos de concentração. Ora, quem realmente consegue afirmar que os oficiais que estavam trabalhando nesses campos, onde há farto material histórico comprovando o que ali ocorria de forma planejada, estavam "apenas cumprindo a lei"? Há alguns poucos casos de oficiais alemães que preferiram pedir transferência para a frente de batalha a servir nesses campos. Quem viu o filme "A Lista de Schindler" compreende porque a lei não é nem pode ser soberana.

Como Thoreau mesmo afirmou: "É preferível cultivar o respeito do bem, do que o respeito pela lei." Termino deixando o vídeo abaixo com algumas mensagens de Thoreau:

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A crítica construtiva (sobre Ayn Rand)

Isaac Newton descreveu de forma bela as leis que regem os movimentos dos corpos. Seja uma maçã ou um planeta, as fórmulas de Newton possibilitaram prever a posição de objetos em movimento com precisão. Não é a toa que ele se encontra entre as mentes mais brilhantes do século XVII. Até que no início do século XX surgiu Albert Einstein que afirmou que as coisas não eram tão simples assim, ou melhor, que a teoria de Newton não era precisa, que falhava em certas situações (corpos que se movem muito rapidamente) e que podia ser melhorada. Qual foi a reação inicial de praticamente toda a comunidade científica? Naturalmente Einstein foi tachado de maluco, ignorante, arrogante, inocente, etc. Afinal quem era ele para confrontar as idéias estabelecidas de Sir Isaac Newton?

"Antes de 1908, a resposta para a Teoria da Relatividade nos Estados Unidos foi ignorá-la. (...) Após 1908, os cientistas começaram a responder a Einstein. A maioria ridicularizou a sua teoria como absurda. O clímax desses tipos de comentários veio em 1911 no encontro da Associação Americana para o Avanço da Ciência quando W. F. Magie, no seu discurso presidencial, clamou pelo retorno a Newton." (*)


Contei essa historinha para ilustrar a importância da crítica. Não da crítica DESTRUTIVA que muitos fizeram a Einstein, mas da crítica que Einstein corajosamente fez a Newton. A crítica construtiva é aquela que acende uma pergunta em nossa mente: "Será que olhando por esse lado ele pode ter razão?". Já a crítica destrutiva é aquela que enfatiza a vaidade e a inveja de quem critica, adicionando muito pouco ao debate.

Recentemente li um artigo em Veja sobre Ayn Rand e sua filosofia (A papisa do liberalismo) que trazia algumas críticas construtivas que me fizeram pensar. Para quem não conhece, Ayn Rand foi uma das principais filósofas, escritoras e defensoras do liberalismo, do individualismo, do racionalismo e do capitalismo. Suas idéias são controversas e não combinam nem um pouco com a mentalidade brasileira vigente, mas nos EUA seus livros aparecem com freqüência na lista dos mais influentes de todos os tempos.

A sua filosofia do Objetivismo foi definida por ela assim:

"Minha filosofia, em essência, é o conceito do homem como ser heróico, que tem sua felicidade como objetivo moral de sua vida, a realização produtiva como atividade mais nobre e a razão como seu único absoluto."




Me focarei agora na crítica feita pelo artigo de Veja, mas ao final disponibilizo alguns links (**) para o leitor que desejar conhecer melhor a filosofia dessa autora que no Brasil infelizmente não passa de uma ilustre desconhecida.

A crítica construtiva de Veja foi a seguinte:

"No entanto, há certas ideias da autora que não são totalmente compatíveis com o capitalismo. O desprezo pelo homem comum que seus romances destilam é contrário ao imperativo fundamental do mercado – servir à demanda dos consumidores. "Não pretendo construir para ter clientes, pretendo ter clientes para construir", diz o herói arquiteto de A Nascente. Não é exatamente o tipo de estratégia que garanta o sucesso empresarial."


Há duas críticas aqui: A primeira quando se fala no "desprezo ao homem comum" e a segunda quando se afirma que "satisfazer a demanda do consumidor é um imperativo fundamental para o sucesso empresarial".

Começarei pela segunda, que me parece ser mais fácil de contra-argumentar. Primeiro o personagem que afirmou que pretendia ter clientes para construir e não construir para ter clientes era um arquiteto e não um homem de negócios. Independentemente desse fato, é fundamental constatar que ele era um visionário. Um visionário é aquele indivíduo que vê oportunidades onde ninguém consegue ver, isto é, ele CRIA demanda e não apenas SATISFAZ a demanda existente. Ele acredita na sua capacidade, na sua visão de como as coisas poderiam ser feitas, e contra tudo e contra todos vai em frente, até que com muito esforço e integridade as pessoas acabem se rendendo à sua verdade. Alguma semelhança com Einstein e sua teoria?

Não precisa ter um MBA para concordar que o caminho mais fácil e curto para se ter sucesso empresarial é ir de encontro a uma demanda pré-existente. Criar uma nova demanda é muito mais difícil e arriscado, mas é exatamente aí que se sobressaem os grandes homens de negócios como Steve Jobs, Bill Gates, Henry Ford, etc. Tomemos Henry Ford como exemplo: Ele simplesmente desejou popularizar o uso do carro quando ainda não existiam estradas e ruas. Não é muito difícil imaginar qual foi a reação dos empresários da época. Visionários são líderes fundamentais para o sucesso empresarial nos dias de hoje, eu diria não apenas para o sucesso mas para a sobrevivência num mundo cada vez mais dinâmico e acelerado. Inovar é preciso, pensar de forma diferente também, nem que para isso você tenha que remar contra a maré.

Já a primeira crítica requer um esforço maior de avaliação. Ayn Rand realmente exaltou o homem heróico, aquele que possui ética e integridade, que se sobressai da massa e que obtém sucesso pelo seu esforço próprio. Entretanto o arquiteto do romance A Nascente não era rico, não ligava para dinheiro nem para prestígio, não possuía poder no sentido de que não controlava nem subjugava as pessoas, não se importava com a opinião alheia nem com as críticas destrutivas que recebia com freqüência. Também não tinha uma rede de contatos que o favoreciam. Por causa disso teve que enfrentar um tortuoso caminho para o sucesso, munido apenas da sua coragem e integridade. Não era humilde, não era fraco, não era covarde, não era desleal e nem anti-ético. Era egoísta e colocava o seu interesse em primeiro lugar, sem que para isso precisasse passar por cima de ninguém ou trapacear. Ele não vivia para os outros nem pedia que os outros vivessem para ele. Ele vivia para si mesmo. Realmente não era um homem comum, mas sim uma utopia de homem.

Não creio que o enaltecimento do homem diferenciado automaticamente significa que Ayn Rand menosprezou o "homem massa". Ele desprezou sim, e ao meu ver de forma merecida, o homem irracional mas isso é assunto para um próximo artigo. Na verdade cada indivíduo deveria ser único, dotado de suas próprias capacidades e aspirações. Da palavra "comum" deriva a palavra "comunidade" e também "comunismo". Quem realmente quer ser um comum? Quem realmente deseja viver num mundo onde todos são iguais? Será que o fato de que algumas pessoas se sobressaem mais do que outras justifica nivelar todos por baixo promovendo cada vez mais essa tal de "justiça" social?

Talvez a matéria de Veja tenha confundido o homem comum como sendo aquele que não possui poder ou prestígio. Não é necessário ter poder ou prestígio para ser um não-comum. É necessário ter integridade, ética, uma mente racional e auto-estima. A autora não tem culpa se isso é uma raridade. O certo é que há muitos que vão exatamente para o caminho oposto: exaltam o comum e pregam uma igualdade social injusta, ineficiente e insustentável no longo prazo. Entre a utopia autoritária do socialismo e a utopia libertária de Ayn Rand eu fico com a segunda. Mas estarei sempre aberto a abandoná-la ou revê-la a partir de uma crítica construtiva e contundente.

(*) Fonte: http://www.arts.yorku.ca/huma/kateya/courses/2915/documents/Reception.doc

(**)

http://stapafurdius.net/2008/10/03/quem-e-john-galt-atlas-shrugged-de-ayn-rand/

http://www.institutoliberal.org.br/galeria_autor.asp?cdc=921

http://www.youtube.com/watch?v=esBfeCUiiBs

http://www.atitudenegocial.com.br/lite2.htm

http://blogs.mentaframework.org/posts/list/243.page