quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O poder primário

Quando pensamos na palavra "medo" algumas situações de risco logo vêm a nossa mente: se aproximar do precipício em uma montanha, confrontar uma cobra venenosa no meio de uma trilha ou viajar num Tupolev da companhia área estatal norte-coreana. Nessas situações, o melhor a se fazer é evitar o medo através do bom uso da prudência. De acordo com o dicionário Michaelis, prudência significa: Virtude que nos faz prever e evitar as faltas e os perigos e que nos leva a conhecer e praticar o que nos convém.



Um outro tipo de medo mais perigoso, que pode paralisar mais que o veneno de uma cobra, é o medo de viver, o medo de encarar a vida e todos os desafios que ela nos apresenta diariamente. Em outras palavras é aquele medo que leva a mediocridade, a uma vida mediana, pacata, sem muitos contratempos e sem muitos méritos. Todos nós em diversos momentos de nossas vidas somos assombrados por esse medo que grita por acomodação, pelo menor esforço, pela zona de conforto, pelo politicamente correto, pelo prêmio da mega-sena, ou seja, por qualquer segurança que nos livre do desafio de encarar a vida em busca do mérito e da sua conseqüência natural que é a auto-estima.

No livro "A Nascente" Ayn Rand fala do sentimento da protagonista Dominique Francon em relação a esse medo:

Ela sempre odiara as ruas de uma cidade. Via os rostos passando por ela, rostos que se tornavam parecidos pelo medo - medo como denominador comum, medo de si mesmos, medo de todos e de cada um, medo que os deixava prontos para atacar o que quer que fosse sagrado para qualquer um que encontrassem. Ela não conseguia definir a natureza ou a razão daquele medo, mas sempre sentira sua presença.

Para combater esse medo, temos que fazer uso do desejo primário, da vontade de viver uma vida que valha a pena. Mesmo com todos os seus erros e acertos, derrotas e vitórias, a sua vida é única e finita, logo desperdiçá-la na mediocridade é como morrer em vida, se apagar, se omitir, se esconder e se perder.

Muitas vezes quando acordamos para essa verdade essencial já é tarde demais. No livro "Por um fio" o doutor Dráuzio Varella fala de sua experiência com doentes terminais e do impacto da perspectiva da morte no comportamento dos seus pacientes. Com a palavra o médico:

Mas o grande mistério para mim era encontrar os motivos que tornam a pessoa que tem a vida ameaçada em alguém com felicidade plena; afinal, era freqüente encontrar pacientes com doença incurável que se diziam mais felizes.

A única certeza que temos nessa vida é que vamos morrer um dia. Quando esse dia chegar não vai ser importante saber quanto dinheiro estamos deixando, a quem agradamos ou não, a opinião dos outros sobre nós, etc. Tudo que vai importar é olhar pra trás e se perguntar: "A vida que eu vivi valeu a pena ser vivida sob o meu conceito de felicidade?" Se a resposta for negativa temos a revolta. Se for positiva é possível até mesmo termos a aceitação e a felicidade final.

Como diria o escritor americano Christopher Morley: "Só há um sucesso na vida: conseguir viver a vida a sua maneira"

E como diria Ayn Rand em sua novela sobre Dominique Francon:

E ela soube que essa barreira não seria mantida entre eles, que ela não tinha forças para mantê-la. Sentiu a reação em seu corpo, a reação do apetite, da aceitação, do prazer. Pensou que não era uma questão de desejo, nem mesmo uma questão do ato sexual, (...) mas que este homem tinha a vontade de vida, o poder primário, e que este ato era somente a declaração mais simples desse poder, e ela estava reagindo não ao ato nem ao homem, mas àquela força dentro dele.

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